São muitas as especulações sobre os efeitos da música em nossas vidas. Mas afinal, quais os benefícios da música para o cérebro?
Que mudanças podem ocorrer em nossa mente durante a apreciação musical ou a execução de um instrumento?
Mais do que nossa companheira nos momentos alegres ou tristes, a música é sempre uma boa opção, nos ajudando a imergir em diversas situações, seja ela letrada ou instrumental. Ela pode contribuir em nossa saúde e desenvolvimento.
Além das funções específicas do estudo da música, ela também pode ser uma aliada no tratamento de doenças (Musicoterapia), pode ajudar a desenvolver habilidades sociais, melhorar a coordenação motora, etc.
Embora as pesquisas sobre a relação da música com o desenvolvimento da inteligência ainda estejam engatinhando, vamos abordar alguns estudos relevantes a seguir. Você irá se surpreender.
Neste artigo nós vamos abordar
- Influência da música no processo metacognitivo (pesquisas científicas)
- Efeito Mozart
- Efeitos da prática musical para o cérebro
- O papel da música na concentração
- Música e aumento de atenção
- Playlist indicada por especialista para estudar
- A música no como parte do tratamento de Alzheimer
QUAIS OS BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA O CÉREBRO: OLHARES CIENTÍFICOS SOBRE O TEMA
Publicação Havard Gazette 2013
Em 2013, uma pesquisa publicada na Havard Gazette ganhou bastante notoriedade, Samuel Mehr, um dos autores da pesquisa, alega que a prática musical não tem nenhum efeito sobre a habilidade congnitiva das crianças.
Ele afirma que dos estudos posteriores ao que se conhece como “efeito Mozart”, apenas cinco analisaram amostras aleatórias controladas para medir o efeito de aulas de música no aprendizado, somente um mostrou resultado significativo, com um aumento de 2,7% do QI.
A pesquisa consistiu em dois estudos com crianças em idades pré-escolar, e ocorreu da seguinte maneira:
- O primeiro estudo comparou dois grupos de crianças, um deles foi exposto a aulas de música por seis semanas e o outro teve a mesma proporção em aulas de artes visuais.
- O segundo comparou alunos que tiveram aula de música a alunos que não tiveram aula nenhuma.
O propósito seria que, após diferentes experiências, os alunos fossem avaliados em quatro áreas específicas: cognição, vocabulário, matemática e atividades espaciais.
Resultados
O primeiro estudo (6 semanas de música ou artes visuais) obteve resultado parecido nas atividades de vocabulário e estimativa numérica.
Mas quando avaliados os desempenhos das duas atividades espaciais propostas, um grupo se sobressaiu em uma e o outro, na outra.
Diante do resultado inconclusivo, Mehr realizou o segundo estudo (alunos que tiveram aulas de música com alunos que não tiveram aula alguma).
Então concluiu não haver evidências de que a prática musical traga benefícios cognitivos. Afirmou que a pequena diferença entre os grupos não é suficiente para ser significativa estatisticamente.
Apesar dos resultados, o pesquisador ressaltou que a educação musical tem um valor muito importante, independentemente de contribuir para o sucesso dos alunos na escola.
Não ensinamos Shakespeare porque achamos que isso melhorará o desempenho dos alunos em outras matérias. Ensinamos Shakespeare porque achamos que é importante. – Samuel Mehr
Então você deve estar pensando: mas a música não ajuda na cognição? Quais os benefícios da música para o cérebro? Eles de fato existem?
Calma, continue lendo e mais adiante você terá a oportunidade de concluir o contrário.
O QUE É O EFEITO MOZART
O tal “efeito Mozart”, refere-se específicamente a uma pesquisa realizada em 1993, por Frances Rauscher, Gordon Show e Katerine Ky, publicado na revista Nature.
Nessa pesquisa 36 estudantes universitários que ouviram dez minutos de uma sonata de Mozart, obtiveram desempenho superior em uma tarefa espacial temporal, comparado ao desempenho que tiveram quando submetidos a instruções de relaxamento ou apenas silêncio.
A mídia exagerou sobre os resultados do tal “efeito Mozart“, já que foi uma pesquisa realizada apenas em adultos.
Também cabe lembrar que não foi utilizada a prática musical e durou poucos minutos com ênfase apenas para o raciocínio espaço temporal.

ESTUDOS QUE DEMOSTRARAM O BENEFÍCIO DA MÚSICA PARA O CÉREBRO
Ainda em 1993, Frances Rauscher e seus colegas realizaram mais um estudo publicado pela revista Nature, este indicou que crianças na idade pré-escolar aumentaram o raciocínio espacial em 46% após oito meses de aulas de teclado.
Nesse estudo a música antiga mostrou ser mais benéfica no processo cognitivo.
Ainda em 1994, a revista Discover publicou um artigo de Gottfried Schlaug, Hernan Steinmetz e seus colegas (Universidade de Dusseldorf).
Na pesquisa foram comparadas imagens de ressonância magnética.
Foram comparados os resultados de vinte e sete homens, pianistas ou de instrumentos de cordas, destros de formação clássica com outros vinte e sete homens não músicos e também destros.
Ela revelou que o plano temporal dos músicos (estrutura cerebral relacionada com o processamento auditivo) foi maior no hemisfério esquerdo do que nos não músicos, e menor no direito comparado aos não músicos.
Outro resultado dessa pesquisa revelou que estudo da música promove crescimento em uma estrutura cerebral que funciona como ponte entre os hemisférios esquerdo e direto.
Ele descobriu que em músicos que começam antes dos sete anos, essa estrutura é de 10% a 15% maior que em não músicos ou músicos que iniciaram após essa idade.
Em 2002 mais um estudo relacionado ao tema foi publicado pela revista Science, realizado pelo psicólogo Petr Janata.
Este confirmou que a estrutura mencionada reflete na melhora da coordenação motora.
E ainda, que a mesma estrutura acelera a comunicação entre os dois hemisférios cerebrais e também em áreas responsáveis pela emoção, cognição e memória.
O estudo relatou que algumas áreas do cérebro são 5% maior em músicos profissionais do que em pessoas com pouca ou nenhuma formação musical. Assim como o córtex auditivo é 130% mais denso nos músicos.
Uma outra pesquisa do ano de 2002, conduzida pelo Dr. Timo Krings foi veiculada pela Neuroscience Letters.
Este trabalho, realizado em pianistas e não músicos, revelou que a atividade cerebrais verificadas em músicos foram menores quando realizaram movimentos complexos com os dedos, do que em não músicos.
Ou seja, os músicos realizaram a atividade com mais facilidade, menos esforço cerebral do que os não músicos.

MÚSICA E CONCENTRAÇÃO
Outros estudos sugerem que a música é extremamente benéfica durante o processo cognitivo, estimulando a criatividade o raciocínio lógico matemático.
Obviamente o resultado do estudo (teoria e prática) musical é suficiente para se dedicar ao seu aprendizado, os outros benefícios vêm de bônus.
A Universidade de Medicina de Stanford por meio de uma pesquisa realizada 2012, revelou que a música orienta o cérebro a prestar a atenção, ela ajuda na concentração. Nessa experiência foi utilizada a música barroca.
Ainda nesse trabalho, verificou-se que o pico da atividade cerebral era justamente nos momento de pausa, também no momento de transição de uma nota para outra.
Tal fato foi observado mesmo em pessoas que não possuíam conhecimento musical, é como se o cérebro ficasse alerta aos movimentos, como intensidade dos sons e os silêncios.
A pesquisa também apontou que as técnicas utilizadas por compositores há 200 anos ajudam o cérebro a organizar as informações recebidas.
Contudo não se sabe se os compositores barrocos tinham noção da intensa atividade cerebral que ocorre.

Outras evidências
Outro indício de que a música é benéfica à concentração foi o estudo conduzido pela Universidade de Caen, na França, realizando com estudantes de 249 Universidades.
A pesquisa dividiu estudantes com mesmo nível de conhecimento em dois grupos, cada grupo de estudantes deveria assistir a uma palestra e depois realizar um teste baseado na mesma.
O grupo que assistiu a palestra ouvindo música erudita obteve o melhor desempenho.
Os cientistas não sabem explicar o motivo pelo qual a atenção aumentou em estudantes que ouviram música clássica, acreditam que a emoção ajude de alguma forma nesse processo, ajudando a criar as conexões necessárias.
Como você pode utilizar a música para se concentrar? Bem, visto os benefícios da música para a concentração você deve estar se perguntando: como implementar essa técnica aos seus estudos. Calminha aí! Adiante falaremo mais.
Estudar um instrumento, com certeza trabalhará sua concentração de modo geral, juntamente com a coordenação, será preciso muita disciplina mas é compensador.
Se você tem dificuldades para estudar matérias escolares, conteúdos de concurso público a música também pode ser uma grande aliada no seu aprendizado.
Utilizada da maneira correta você conseguirá manter a concentração com mais facilidade, isso fará com que aprenda com mais velocidade os conteúdos a serem estudados.
Por outro lado, não adianta esperar resultados milagrosos sem esforço, o aprendizado é a combinação de diversos fatores, como organização, disciplina, material adequado, etc.
A música é apenas mais um instrumento para auxiliar nesse processo.
O ideal é que estude por ciclos de tempo. Por exemplo, se você estuda uma hora então separe uma hora de música, isso fará com que você não perca tempo procurando músicas quando deveria estar estudando.
No Youtube e Spotfy existem diversas listas com música clássica, o ideal é buscar álbuns completos, que não possuem intervalos. Logo abaixo citaremos uma lista indicada por um especialista em memorização.
20 músicas indicadas por especialista em memorização
Felipe Lima é coach da SouGenius e especialista em memorização, ele defende que quem vai encarar uma prova importante não deve estudar no silêncio absoluto.
“Se na hora da prova houver barulho, o aluno sofrerá bastante para conseguir se concentrar em meio aos ruídos”, Felipe Lima.
A sugestão de Lima é estudar com música pois ajuda na concentração, e também na hora da prova pode haver algum ruído. Assim, o estudante estaria mais adaptado no caso do local da prova não ser silencioso.
Felipe Lima indica uma lista no Spotfy com as vinte melhores músicas para se concentrar, segundo sua avaliação. Para ouvir basta clicar abaixo.
Avaliando alunos de diversas áreas há dezesseis anos, Lima reforça que além da adaptação ao estudo com ruídos, a música durante o estudo oferece vantagens à modulação da frequência mental e da concentração.
Ele recomenda que se varie músicas com instrumentos musicais diferentes, inclusive as músicas que possuem voz.
Ele reforça que a maioria dos resultados é com o volume baixo, mas ressalta que alguns alunos obtiveram excelentes resultados com o volume alto.

MÚSICA E ALZHEIMER
O Alzheimer é uma doença degenerativa que inicialmente afeta o cérebro. Pessoas com esta doença vão perdendo as memórias irreversivelmente.
Embora ainda não haja cura, são utilizadas muitas terapias com o intuito de diminuir a progressão e os efeitos da doença, uma delas vem ganhando espaço por trazer de volta algumas memórias afetivas dos pacientes, ainda que por alguns instantes, a Musicoterapia.
Muitos pacientes mantêm suas memórias musicais mesmo em estágios avançados da doença.
Essas memórias ficam localizadas no lobo temporal (região próxima à parte de trás da orelha) local onde também são armazenadas nossas memórias auditivas. E curiosamente essa é a primeira região a ser afetada pela doença.
Uma matéria do jornal El País, trouxe informações sobre um estudo liderado por pesquisadores de diversos locais liderados por neurocientistas alemães.
Nesse estudo foi constatado que muitas pessoas com Alzheimer reconheceram algumas músicas que os emocionaram em determinado período de suas vidas, pessoas que não conseguiam lembrar o próprio nome.
Segundo Fátima Pérez-Robledo, musicoterapeuta na Fundação Alzheimer Espanha, “as recordações mais duradouras são aquelas ligadas às emoções intensas, e a música tem uma relação estreita com as emoções”.
Pérez-Robledo também relata que “muitos doentes não se lembram o nome de um parente, mas lembram a letra de uma canção.”
“As recordações mais duradouras são aquelas ligadas às emoções intensas, e a música tem uma relação estreita com as emoções”
CONCLUSÃO
Bem, fazendo a análise de diversas pesquisas podemos encontrar dados positivos em todas elas, inclusive na primeira pesquisa mencionada nesse post, a que foi publicada na Havard Gazette. Mas afinal, quais os benefícios da música para o cérebro humano?
Porém, é importante mencionar que o trabalho da pesquisa que concluiu que a música não apresenta benefícios cognitivos relevantes, foi de apenas 6 semanas e com crianças em idade pré-escolar.
A maneira como as pesquisas são realizadas devem ser muito avaliadas e questionadas pelos leitores na hora de concluir por determinado ponto de vista.
Afinal uma outra pesquisa, com aulas de teclado durante oito meses, também com crianças em idade pré-escolar, apontou excelentes resultados.
Como mencionado, as pesquisas nessa área estão engatinhando, com certeza em alguns anos teremos pesquisas mais conclusivas a respeito do assunto.
Enfim, é preciso testar outros períodos, idades, métodos e instrumentos para que se obtenha resultados ainda mais assertivos.
Porém, diversas publicações sugerem que o aprendizado se consolida com mais facilidade por meio da emoção, e a música, indiscutivelmente, é capaz de nos fazer imergir em qualquer sentimento.
Só por esse motivo já podemos considerar evidente sua relação com o aprendizado.
Ademais, as pesquisas apontam resultados gerais, mas sabemos que cada indivíduo tem seu tempo, então não é tão simples medir resultados.
Há ainda estudos atuais que relacionam a música a casos de melhora em pessoas que possuem Alzheimer, como vimos por último. Pessoas que se recordam de fatos ao ouvir determinada música.
Ou seja, estudiosos afirmaram que as recordações mais duradouras estão relacionadas à emoção. Logo, se pode concluir que a música causa efeitos cerebrais significativos.
Independentemente de seus inúmeros benefícios, a principal contribuição da música é para a alma .
Acredito que ninguém dirá o contrário!
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Fontes de Consulta:
→ Havard Gazette - Silenciando o efeito Mozart → Música e desempenho da tarefa espacial - Nature → Estruturas cerebrais entre músicos e não-músicos - JNeurosci → A música ajuda o cérebro a prestar atenção - Stanford Medicine → Ouvir música clássica pode deixá-lo mais inteligente - Universia → 20 Músicas que ajudam na concentração para os estudos - Exame → A doença de Alzheimer não pode com a música - El País